terça-feira, 14 de agosto de 2007

Diário de Bordo - Poeira, poeira, poeira...sacode e levanta!

Fotos: Donizetti Castilho
Rally Internacional dos Sertões – 2007
Quinta-feira – 09 de agosto
Freire Neto - Motores & AÇÃO motoresnosertoes@digizap.com.br


Poeira tipo talco, vai um quilo aí? Assim foi o fim de semana durante o 15º Rally Internacional dos Sertões 2007, entre as cidades de Palmas, capital do Tocantins, e São Raimundo Nonato, Piauí, passando pelo Alto do Parnaíba, Maranhão, onde pernoitamos após enfrentar os desafios às margens do deserto do Jalapão. Destaque para a poeira fina, batizada de talco pelos participantes do rally. Nesses dois dias muitas quebras e acidentes entre os participantes e uma certeza para mim, estou definitivamente conhecendo o Brasil. Entre às 5h da manhã de sábado, quando saímos de Palmas, até às 22h de domingo, quando chegamos a São Raimundo Nonato, rodamos 1128Km. Desses, apenas 30% foram em rodovias pavimentadas, e os demais, fora de estrada.

No centro do país, numa zona mista entre o Norte, o Nordeste e o Centro-Oeste, existe uma “faixa esquecida” por todos. O nosso país é muito grande, extenso e a desigualdade social e cultural são gigantescas. Conhecemos uma cidade chamada Lizarda, entre Novo Acordo/TO e o Alto do Parnaíba/MA, quase na fronteira dos estados de Tocantins e Maranhão – encravada no Jalapão. Lizarda é um ponto eqüidistante, entre as duas cidades anteriores, com apenas uma entrada e uma saída. A poeira toma conta cidade e da região. Ônibus de linha passa apenas duas vezes por semana, e as estradas que ligam esse “ponto” para as demais são precárias.

Durante a passagem do rally que consumiu todos os produtos, bebidas e comidas, disponíveis para venda, o povo acompanho de perto todas as atividades. “Ei moço, você é de São Paulo?”. Disse um menino franzino, chamado de Patrício. Respondi que morava nas cidades de Natal e Fortaleza. Ele disse: “Tudo bem. Me leve com o senhor. Morar aqui é muito ruim, não tem nada para fazer”.

Triste, mas em uma cidade com 5 mil habitantes, a maior festa e acontecimento já visto, em quase 60 anos de emancipação política, foi a passagem do Rally dos Sertões. E esperar o que? E o povo em Lizarda, vive de que? Como disse uma vez o empresário cearense Sérgio Holanda sobre uma pergunta parecida, feita quando um japonês da Honda visitou o sertão cearense: “De teimoso!”. É, mas além disso, esse povo, esquecido pelos governantes, vive de esperança e ainda são empreendedores. Seu Raimundo, dono da padaria da cidade, já investira R$ 3 mil “conto” na única padaria do lugar. O bolo de “mandioca”, “com a farinha bem sequinha”, era espetacular. E de acordo com os tocantinenses, a cidade tem o melhor coco verde do estado. E o rally continua...

No domingo, a caravana partiu para o Piauí. Passamos pela Serra da Capivara e Serra das Confusões. Rodamos por várias rodovias estaduais e até federais – todas, sem exceção, não possuíam acostamento, até chegar em São Raimundo Nonato – cidade turística, com sítios arqueológicos e o Museu do “Homem Americano”. O índice de acidentes e atropelamentos deve ser altíssimo. Mesmo à noite, as pessoas andavam na pista, a pé ou de bicicleta, e os motoristas precisam ser ágeis e estar atento para não ocasionar um desastre.

Um fim de semana diferente, especial e enriquecedor. Conhecer esse Brasil esquecido e real nos faz olhar o mundo de outra forma, e o que puder fazer para mudar ou ajudar, nunca é pouco ou demais, e precisamos começar a agir. Ou, a “poeira” fina e constante continuará escondendo o que todos os brasileiros deveriam conhecer. E o rally é assim, superação de limites, persistência, interação e integração com as comunidades e divulgação das nossas belezas, histórias e acontecimentos interior a dentro. Nesta segunda, chegaremos a Bahia e o Sertões 2007 parte para reta final.

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